terça-feira, 6 de março de 2012

O transporte público e descaso com a Carris


Em uma entrevista na Rádio Gaúcha, um dos prefeituráveis – a deputada Manuela – mencionou algo que poderia ser uma pista para uma ótima pauta jornalística. O jornal da mesma rede recusou-se a investigar o que é um escândalo da (não) gestão pública. É dinheiro público jogado pelo ralo. Bastava ver e procurar documentos, andar nas linhas Carris e conferir de perto as conversas entre motoristas e cobradores durante as viagens. Foi o que fizemos. Claro que você não leu na Zero. E não precisa dizer o motivo.

Há algum tempo ela falou sobre isso no Twitter e fomos buscar as informações. Hoje, ela falou de novo e aproveitamos a deixa, para publicar o que conseguimos.

A Carris foi fundada em 13 de maio de 1872. Em 19 de junho do mesmo ano passou a ser (por decreto) a operadora do transporte público de Porto Alegre.

A empresa de 139 anos (no ano em que Poa completa 240 anos, ela completa 140), tem frota de 361 ônibus, operando 27 linhas. Transporta cerca de 220 mil passageiros/dia, 72 milhões por ano. Deveria (e poderia) ser modelo, tinha tudo para ser modelo. Mas não é. Virou aparelhamento e empilhamento de pessoas que nada entendem de transporte. O resultado é a falta de ônibus, transporte coletivo caro, sucateamento da frota, funcionários insatisfeitos, riscos para passageiros e, sobretudo, endividamento desproporcional.

Vamos às explicações: em 2004, a Carris tinha 16 CCs; em 2008, eram 19; em 2011, pasmem, 53. Tem mais CCs do que cadeiras!

Em 2005, a empresa tinha uma dívida de R$ 5 milhões (parcelada) e caixa de R$ 5 milhões. Em 2010 a dívida chegou a R$ 95 milhões (valor que corresponde à receita líquida de um ano da empresa); em 2012 está em R$ 100 milhões. Claro que não nada de recursos em caixa.

Um dos motivos do endividamento é a tese que prevê a compra, mas não o pagamento. Assim, a Carris captou recursos e boa parte disso com taxas muito superiores à própria remuneração tarifária. Qualquer leigo sabe o resultado de tamanha imprudência. Ainda mais quando os valores são em milhões.

Quanto à frota, em 2007, a frota era de 341, em 2010, 361, em 2011 os mesmos 361. Crescimento abaixo do necessário para atender à demanda que aumenta ano a ano.

Além disso, há graves denúncias de que, com a frota envelhecida, os funcionários são obrigados a tirar peças de alguns ônibus para recolocar em outros. Ou seja, a frota total que eles apresentam, não a mesma que circula nas ruas e corredores de ônibus. Talvez isso explique todas as linhas T superlotadas. T7, T3, T11, T2... basta fazer a experiência.

Como chegou em R$ 100 milhões a dívida? Quem são os 53 CCs? Qual a formação e contribuição deles para a Carris?

Como uma empresa desse porte, que deveria balizar o valor das passagens, consegue ter uma dívida tão alta, enquanto as privadas aumentam os lucros?

As respostas não serão lidas na Zero. Mas podem ser subentendidas nesse episódio: o ex-diretor administrativo financeiro da Carris (Sr. Regis) foi alvo de sindicância. O motivo? Descontou cheque dele mesmo em caixa! Contando, ninguém acredita!

Um comentário:

  1. Sou funcionário da Carris a mais de 12 anos, e afirmo sem sombra de duvidas que, Episódios como os citados aqui, á anos deixaram de ser novidades para nos funcionários, o que me admira é gente de fora saber disso e não vir em nosso socorro, falo em nosso socorro, pois somos a engrenagem que faz a empresa funcionar, só capitalizar a desgraça em favor politico, não nos ajuda.

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